quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Fernando Pessoa ganha interlocutor em livro.
Brilhante e reconhecido em todo o mundo, Fernando Pessoa pode ser considerado complexo para algumas pessoas. Porém, o autor Álvaro Cardoso Gomes em O Poeta que fingia, lançado pela Editora FTD, teve a ideia de trazer o poeta para a atualidade, sem perder a essência, e torná-lo mais acessível, principalmente aos jovens.
Postado por Amanda e Camille.
Postado por Amanda e Camille.
Aqui está-se sossegado
Aqui está-se sossegado,
Longe do mundo e da vida,
Cheio de não ter passado,
Até o futuro se olvida.
Aqui está-se sossegado.
Tinha os gestos inocentes,
Seus olhos riam no fundo.
Mas invisíveis serpentes
Faziam-a ser do mundo.
Tinha os gestos inocentes.
Aqui tudo é paz e mar.
Que longe a vista se perde
Na solidão a tornar
Em sombra o azul que é verde!
Aqui tudo é paz e mar.
Sim, poderia ter sido...
Mas vontade nem razão
O mundo têm conduzido
A prazer ou conclusão.
Sim, poderia ter sido...
Agora não esqueço e sonho.
Fecho os olhos, oiço o mar
E de ouvi-lo bem, suponho
Que veio azul a esverdear.
Agora não esqueço e sonho.
Não foi propósito, não.
Os seus gestos inocentes
Tocavam no coração
Como invisíveis serpentes.
Não foi propósito, não.
Durmo, desperto e sozinho.
Que tem sido a minha vida?
Velas de inútil moinho —
Um movimento sem lida...
Durmo, desperto e sozinho.
Nada explica nem consola.
Tudo está certo depois.
Mas a dor que nos desola,
A mágoa de um não ser dois
Nada explica nem consola.
Fernando PessoaLara e Maria Clara
Aqui está-se sossegado,
Longe do mundo e da vida,
Cheio de não ter passado,
Até o futuro se olvida.
Aqui está-se sossegado.
Tinha os gestos inocentes,
Seus olhos riam no fundo.
Mas invisíveis serpentes
Faziam-a ser do mundo.
Tinha os gestos inocentes.
Aqui tudo é paz e mar.
Que longe a vista se perde
Na solidão a tornar
Em sombra o azul que é verde!
Aqui tudo é paz e mar.
Sim, poderia ter sido...
Mas vontade nem razão
O mundo têm conduzido
A prazer ou conclusão.
Sim, poderia ter sido...
Agora não esqueço e sonho.
Fecho os olhos, oiço o mar
E de ouvi-lo bem, suponho
Que veio azul a esverdear.
Agora não esqueço e sonho.
Não foi propósito, não.
Os seus gestos inocentes
Tocavam no coração
Como invisíveis serpentes.
Não foi propósito, não.
Durmo, desperto e sozinho.
Que tem sido a minha vida?
Velas de inútil moinho —
Um movimento sem lida...
Durmo, desperto e sozinho.
Nada explica nem consola.
Tudo está certo depois.
Mas a dor que nos desola,
A mágoa de um não ser dois
Nada explica nem consola.
Documentário produzido pela Editora Globo apresenta a vida e comentários sobre as fantásticas obras literárias e também filosóficas do poeta português (e também "brasileiro") Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa que se destacou com a criação de seus heterônimos Alberto Caeiro, Bernardo Soares, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
"Quero tudo novo de novo. Quero não sentir medo. Quero me entregar mais, me jogar mais, amar mais. Viajar até cansar. Quero sair pelo mundo. Quero fins de semana de praia. Aproveitar os amigos e abraçá-los mais. Quero ver mais filmes, ler mais. Sair mais. Quero não me atrasar tanto, nem me preocupar tanto. Quero morar sozinha, quero ter momentos de paz. Sorrir mais, chorar menos e ajudar mais. Quero ser feliz, quero sossego. Quero me olhar mais. Tomar mais sol e mais banho de chuva. Preciso me concentrar mais, delirar mais. Não quero esperar mais. Quero fazer mais, suar mais, cantar mais e mais. Quero conhecer mais pessoas. Quero olhar para frente. Quero pedir menos desculpas, sentir menos culpa. Quero mais chão, pouco vão e mais bolinhas de sabão. Quero ousar mais. Experimentar mais. Quero menos ”mas”. Quero não sentir tanta saudade. Quero mais e tudo o mais. E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha."
Fernando Pessoa.
Matheus e Bia P.
Fernando Pessoa.
Matheus e Bia P.
O Jogo de ForçasA beleza começou por ser uma explicação que a sexualidade deu a si-própria de preferências provavelmentente de origem magnética. Tudo é um jogo de forças, e na obra de arte não temos que procurar «beleza» ou coisa que possa andar no gozo desse nome. Em toda a obra humana, ou não humana, procuramos só duas coisas, força e equilíbrio de força - energia e harmonia.
Perante qualquer obra de qualquer arte - desde a de guardar porcos à de construir sinfonias - pergunto só: quanta força? quanta mais força? quanta violência de tendência? quanta violência reflexa de tendência, violência de tendência sobre si própria, força da força em não se desviar da sua direcção, que é um elemento da sua força?
Fernando Pessoa, em 'Correspondência'
Perante qualquer obra de qualquer arte - desde a de guardar porcos à de construir sinfonias - pergunto só: quanta força? quanta mais força? quanta violência de tendência? quanta violência reflexa de tendência, violência de tendência sobre si própria, força da força em não se desviar da sua direcção, que é um elemento da sua força?
Fernando Pessoa, em 'Correspondência'
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Viver não é necessário, o que é necessário é criar.
Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
“São poucos os momentos de prazer na vida…
É gozá-la… Sim, já o ouvi dizer muitas vezes
Eu mesmo já o disse. (Repetir é viver.)
É gozá-la, não é verdade?
É gozá-la… Sim, já o ouvi dizer muitas vezes
Eu mesmo já o disse. (Repetir é viver.)
É gozá-la, não é verdade?
Gozemo-la, loura, falsa, gozemo-la, casuais e incógnitos,
Tu, com gestos de distinção cinematográfica
Com teus olhares para o lado a nada,
Cumprindo a tua função de animal emaranhado;
E no plano inclinado da consciência para a indiferença,
Amemo-nos aqui. Tempo é só um dia.
Tínhamos o [?romantismo?] dele!
Por trás de mim vigio, involuntariamente.
Sou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves — e as que esperas.
Do lado de cá dos meus Alpes, e que Alpes! somos do corpo.
Nada quebra a passagem prometida de uma ligação futura,
E vai tudo elegantemente, como em Paris, Londres, Berlim.
Percebe-se, dizes, que o senhor viveu muito no estrangeiro.
E eu que sinto vaidade em ouvi-lo!
Só tenho medo que me vás falar da tua vida…
Cabaret de Lisboa? Visto que o é, seja.
Lembro-me subitamente, visualmente, do anúncio no jornal
Rendez-vous da sociedade elegante,
Isto.
Mas nada destas reflexões temerárias e futuras
Interrompe aquela conversa involuntária em que te sou qualquer.
Falo médias e imitações
E cada vez, vejo e sinto, gostas mais de mim a valer que hoje;
É nesta altura que, debruçando-me de repente sobre a mesa
Te segredo o que exactamente convinha.
Ris, toda olhar e em parte boca, efusiva e próxima,
E eu gosto verdadeiramente de ti.
Soa em nós o gesto sexual de nos irmos embora.
Rodo a cabeça para o pagamento…
Alegre, álacre, sentindo-te, falas…
Sorrio.
Por trás do sorriso, não sou eu.”
Tu, com gestos de distinção cinematográfica
Com teus olhares para o lado a nada,
Cumprindo a tua função de animal emaranhado;
E no plano inclinado da consciência para a indiferença,
Amemo-nos aqui. Tempo é só um dia.
Tínhamos o [?romantismo?] dele!
Por trás de mim vigio, involuntariamente.
Sou qualquer nas palavras que te digo, e são suaves — e as que esperas.
Do lado de cá dos meus Alpes, e que Alpes! somos do corpo.
Nada quebra a passagem prometida de uma ligação futura,
E vai tudo elegantemente, como em Paris, Londres, Berlim.
Percebe-se, dizes, que o senhor viveu muito no estrangeiro.
E eu que sinto vaidade em ouvi-lo!
Só tenho medo que me vás falar da tua vida…
Cabaret de Lisboa? Visto que o é, seja.
Lembro-me subitamente, visualmente, do anúncio no jornal
Rendez-vous da sociedade elegante,
Isto.
Mas nada destas reflexões temerárias e futuras
Interrompe aquela conversa involuntária em que te sou qualquer.
Falo médias e imitações
E cada vez, vejo e sinto, gostas mais de mim a valer que hoje;
É nesta altura que, debruçando-me de repente sobre a mesa
Te segredo o que exactamente convinha.
Ris, toda olhar e em parte boca, efusiva e próxima,
E eu gosto verdadeiramente de ti.
Soa em nós o gesto sexual de nos irmos embora.
Rodo a cabeça para o pagamento…
Alegre, álacre, sentindo-te, falas…
Sorrio.
Por trás do sorriso, não sou eu.”
Fernando Pessoa – Álvaro de Campos
Postado por: Camille e Luisa
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Amanda e Maria Julia
Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias.
Fernando Pessoa. Amanda e Maria Júlia.
- Contemplo o lago mudo
- Fernando Pessoa, 4-8-1930 Postado por Bia Freire e Iago Passos.
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
`` O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escrevem,
Na dor lida sente bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só aqueles que ele não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira,a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração``.
Fernando Pessoa.
(Louise 9° ano)
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escrevem,
Na dor lida sente bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só aqueles que ele não têm.
E assim nas calhas da roda
Gira,a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração``.
Fernando Pessoa.
(Louise 9° ano)
- Fernando Pessoa Postado por Bia Freire e Iago Passos.
- FRESTA
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.
- Viajar! Perder países!
- Fernando Pessoa, 20-9-1933 Postado por Bia Freire e Iago Passos.
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
- Dorme enquanto eu velo...
- Fernando Pessoa Postado por Bia Freire e Iago Passos.
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.
Reticências (part.)
{...} Vou fazer as malas para o Definitivo, Organizar Álvaro de Campos, E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre... Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei. Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir... Produtos românticos, nós todos... E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada. Assim se faz a literatura... Santos Deuses, assim até se faz a vida! {...}Álvaro de Campos
(Matheus e Bia P.)
Cada Coisa
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.
À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,
E casuais, interrompidas, sejam Nossas palavras de reminiscência (Não para mais nos serve A negra ida do Sol) — Pouco a pouco o passado recordemos E as histórias contadas no passado Agora duas vezes Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida Com outra consciência nós colhíamos E sob uma outra espécie De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando, Deuses lares, ali na eternidade, Como quem compõe roupas O outrora compúnhamos
Nesse desassossego que o descanso Nos traz às vidas quando só pensamos Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora. Ricardo Reis.
(Matheus e Bia P.)
E casuais, interrompidas, sejam Nossas palavras de reminiscência (Não para mais nos serve A negra ida do Sol) — Pouco a pouco o passado recordemos E as histórias contadas no passado Agora duas vezes Histórias, que nos falem
Das flores que na nossa infância ida Com outra consciência nós colhíamos E sob uma outra espécie De olhar lançado ao mundo.
E assim, Lídia, à lareira, como estando, Deuses lares, ali na eternidade, Como quem compõe roupas O outrora compúnhamos
Nesse desassossego que o descanso Nos traz às vidas quando só pensamos Naquilo que já fomos, E há só noite lá fora. Ricardo Reis.
Mar Português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma nao é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa
(postado por Luisa e Camille)
As rosas
As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
Poema de Ricardo Reis heterônimo de Fernando Pessoa.
(postado por Camille e Luisa)
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes."
Fernando Pessoa
Postado por: Maria Clara
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